quarta-feira, 27 de julho de 2016

Debate “Fala Menina” lota o Centro Cultural Plataforma com jovens para discutir sobre a cultura do estupro

Foto:Camila Souza


O evento foi uma das realizações da programação do Julho das Pretas 2016.

O debate “Fala Menina! Como assim cultura do estupro?!”, realizado na manhã de hoje (26), no Centro Cultural Plataforma, reuniu jovens negras e negros para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

O evento, que contou com um “turbantaço” em sua abertura, faz parte da programação do Julho das Pretas 2016 do Governo da Bahia e foi realizado pela Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres da Bahia (SPM-BA), em parceria com a Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).

No encontro, as secretárias estaduais baianas de Políticas para as Mulheres, Olívia Santana, e de Promoção da Igualdade Racial, Vera Lúcia Barbosa, receberam três influentes jovens negras: Lellêzinha, atriz, cantora, dançarina e vocalista do grupo “Dream Team do Passinho”; Monique Evelle, estudante e fundadora do Projeto Desabafo Social, que foi considerada uma das mulheres mais inspiradoras do ano de 2015 pela Think Olga; e Elis Regina Sodré, Diretora da União dos Estudantes da Bahia.

O principal objetivo do debate foi tratar do tema “cultura do estupro”, que vem sendo comumente abordado pela mídia e na sociedade, diante de tantos casos que têm chocado o país, junto a um público jovem, formado por meninas negras do subúrbio de Salvador.

Em momento de saudação, a Secretária Olívia Santana explicou que apesar de ser um tema duro e difícil, a juventude precisa tomar conhecimento e enfrentar: “Vocês também têm voz, pensam e têm as próprias opiniões, por isso, estamos aqui para ouvir estas jovens empoderadas”, ressaltou.

A gestora explicou que é preciso criar espaços de discussão e debate entre a juventude, permitindo a conscientização e autoafirmação das mulheres, sobretudo, das negras, e frisou ter certeza de que após o encontro, todas e todos presentes sairiam com pensamentos diferentes, mais fortes, vivos e combativos.

A Secretária Vera Lúcia também saudou os presentes e agradeceu o convite para fazer parte deste importante debate que integra toda a movimentação do Julho das Pretas, que segundo ela trata de um tema que precisa ser discutido, como um dos esforços para dar fim a este problema social que é a cultura do estupro.

Antes da fala das convidadas, a jovem Bruna Silva realizou uma performance para recitar a poesia “Minha luta”, em que ela retrata a sua própria experiência frente ao preconceito racial e propaga a ideia de que as jovens negras precisam de autoafirmação e conhecer o real empoderamento.

Dado início às falas sobre o tema, a cantora Lellêzinha (18) contou com detalhes a sua trajetória até chegar à formação da banda Dream Team do Passinho, revelando os questionamentos e as situações que vivenciou enquanto menina em um ambiente majoritariamente masculino, em que sofria assédio dos garotos e sempre encontrava um jeito de driblar e dizer “não”.

Lellêzinha contou que quando se deu conta de que era uma representação jovem que viria a influenciar outras meninas, deu início a uma série de pesquisas sobre representatividade e o que ela poderia transmitir para ajudar a empoderar outras garotas.

Já a baiana Monique Evelle (21) frisou, em sua fala, que a cultura do estupro é algo vivido no dia-a-dia e citou um exemplo rotineiro sobre o uso de transporte público por meninas, que optam por sentar-se junto a outras mulheres por sentirem-se mais seguras. Ela explicou que estas situações, assim como o racismo, não estão na cabeça das pessoas, mas na vivência delas, e por isso é preciso falar sobre tais assuntos.

Monique também apresentou a sua visão sobre o empoderamento das mulheres e das negras: “Não existe varinha mágica para o empoderamento”, explicou a jovem que apesar de considerar o processo difícil e doloroso, ressalta que deve ser conquistado com luta e persistência.

A Diretora da União dos Estudantes da Bahia, Elis Regina, também confirmou em suas intervenções a necessidade de tratar a cultura do estupro nas universidades, onde jovens são hostilizadas por colegas e professores que são disseminadores de uma cultura machista e patriarcal e culpabilizam as mulheres por erros que não são delas.

O público formado por mais de 200 pessoas participou do encontro, dando opiniões, fazendo perguntas e interagindo com as convidadas. Diversos temas foram abordados, dentre eles: preconceito por ser mulher, negra e figura pública; autonomia, liberdade e empoderamento; o meio artístico, as drogas e a prostituição; a importância de ser uma liderança jovem e disseminar novas narrativas; e a atual conjuntura política do país.

O “Fala Menina” foi encerrado com uma calorosa apresentação de Lellêzinha, ao ritmo do passinho e embalando jovens negras em canções recheadas de ideologia e voltadas ao empoderamento. “Bem-vinda ao mundo das mulheres lindas. Vai fazer bem pra você conhecer o seu poder. [...] Decidida, nada pode me parar. Eu tô sempre confiando em mim, poderosa até o fim. [...] Em terra de chapinha, quem tem cacho é rainha”, diziam alguns versos da canção “Bem-vinda”, apresentada pela artista.


Foto:Camila Souza

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