segunda-feira, 8 de julho de 2013

A NARRAÇÃO DO FUTEBOL EM SENHOR DO BONFIM E OS MAGOS DA TERRA



Locutor Esportivo: Cléber Vieira

Locutor Esportivo: Eloilto Cajuhy
Estádio Pedro Amorim (Sr. do Bonfim-Bahia)

Lembro como se fora hoje a forma como chegava à nossa terra, em nossa infância (e olha que já sou sessentão) o futebol jogado em canchas do sul maravilha. O rádio nos levava ao Maracanã, ao Morumbi, através das ondas sobretudo da  Globo, no vozeirão de Waldir Amaral, comentários de Rui Porto ou João Saldanha. Algumas casas sintonizavam Doalcei Bueno de Camargo na Rádio Tupi e se admiravam  da voz mágica de Fiori Giglioti, da Radio Bandeirantes  paulista.

Naquele tempo, admirávamos tanto os jogadores quanto os narradores esportivos, sempre ao pé do rádio, em nossas salas-de-estar. Encantavam-nos os “bordões”, por exemplo, de Waldir Amaral, com seu vozeirão pausado e sua criatividade. Muitas expressões ainda hoje usadas por narradores da bola, nasceram desse homem que entrava em nossas casas sem pedir licença: profissional extremamente criativo, Waldir Amaral costumava dizer vários bordões enquanto narrava a partida. Alguns bordões criados por ele: "Tem peixe na rede do Fluminense...”;"Choveu na horta do Flamengo";  "Aproxima-se da área, é fumaça de gol..."; "Caldeirão do Diabo" era a grande área; "Indivíduo competente o Zico", qundo narrava um gol; "Deeeeez, é a camisa dele!" "O visual é bom, Roberto tem bala na agulha", quando o jogador partia para bater uma falta. E quando a bola entrava: "Estão desfraldadas as bandeiras do Botafogo"; quando seu nome era citado, em vinheta, ele completava: "Deixa comigo";  e ao dizer o tempo de jogo, falava invariavelmente: "O relógio marca". Dele nasceu a alcunha de Zico, o “Galinho de Quintino”.

Estes deuses do rádio nos encantavam, e não sabíamos se admirávamos as jogadas narradas ou os estilos versáteis de narrar essas jogadas. Eram tão inacessíveis quanto os distantes estádios e os míticos jogadores de nossos times. Senhor do Bonfim era apenas ouvinte. E lembro-me de que a primeira narrativa de futebol realizada pela nascente Rádio Caraíba, necessitou da vinda de um narrador se não me engano, jacobinense, o que sem dúvida feriu os nossos brios mas serviu de incentivo a que nos tornássemos autônomos nesse campo da comunicação.

O amadurecimento de nossa imprensa, o notável crescimento de nível de nossas duas principais emissoras e de nossos radialistas, nos tem prodigalizado invejáveis profissionais, que nada têm a dever a profissionais de outros centros, mesmo dos grandes centros e das grandes cidades. Temos um Cleber Vieira, que faz agora a sua “rentrée” na narração futebolística, da qual nunca deveria ter saído: conjuga rapidez de raciocínio, criatividade de vocabulário e dinamismo narrativo como ninguém, e não foi por acaso que emissoras de destaque do estado já tentaram levá-lo aos seus microfones... Eloilto Cajuhy, um narrador  clássico, que sabe aliar inteligência e criatividade à sua tranqüila forma de descrever o que se passa no gramado... Ivan Silva, que não deveria ter se afastado das canchas, e que levava para nossos rádios a mesma força de seus programas diários... Augusto Gomes, que com seus neologismos e forma inovadora de ver o jogo, nos deixa sempre à espera da próxima inusitada frase ou observação! Walterley Kuhin, uma narrativa fácil e marcada pela inteligência e capacidade de análise.  Nos comentários, como não destacar a lógica ferina  de Pedro de Carvalho; o estilo familiar e bem bonfinense de João Mendes; a picardia e a verve de Geraldo Nascimento; a lógica aristotélica de Renilson Tavares; a capacidade de análise de Betinho e o estilo seguro de Marcio Less.

Perdoem-me os que não citei: mas que sejam valorizados, tanto quanto este time de craques do radio bonfinense, que acabei de citar, e que projetam Senhor do Bonfim bem mais além que as linhas do gramado. Afinal, eles são os nossos magos, os magos, tanto quanto os nossos craques da bola, do tapete verde que nos encanta!

ASCOM de Paulo Machado  -  8-7-2013



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